O segredo da produtividade…

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… é ter constância. E constância é muito diferente de intensidade. Muitas vezes vemos uma empresa que tem grandes entregas, um volume muito grande diante de uma demanda, projeto especial ou de uma jornada de trabalho. Essas grandes entregas depois são intercaladas com momentos de baixa produtividade. Ainda que esse pico do momento de alta possa parecer uma coisa muito positiva, no longo prazo essa estratégia se mostra menos eficiente do que a adotada por aquelas empresas que entregam um determinado volume diariamente. Mesmo que seja aparentemente menor do que outras empresas que entregam um volume insano em um dia ou outro e depois vão para um ritmo muito mais suave nos outros.

Em momentos de grandes crises, nos quais a maioria dos nosso referenciais são colocados de cabeça para baixo, poucas coisas ainda conseguem funcionar como um indicador e a produtividade é uma delas. Nesse artigo você vai entender porque uma produtividade constante é o segredo do sucesso.

O que é produtividade?

A produtividade é a relação entre a quantidade de trabalho realizado e um determinado recurso. Certamente, o recurso mais comumente em questão quando falamos em sermos mais produtivos é o tempo. Em outras palavras: acreditamos que somos produtivos quando conseguimos realizar muito num curto intervalo.

Apesar desta sempre ter sido uma pauta importante, mais recentemente tem sido um dos temas mais recorrentes na rotina de profissionais e empresas, especialmente nos desafios para gerenciar times remotos. E a busca de ferramentas para aumentar a produtividade de si mesmo ou da sua equipe deve continuar em alta muito tempo ainda. Afinal, quem não deseja encontrar um caminho para fazer mais com menos, de ter a capacidade de realizar o máximo de trabalho possível com o mínimo de recursos?

Quando migramos para situações de escassez, o termo ganha maior atenção. Contudo, é preciso ser cauteloso para saber mensurar resultados e não esforço para identificar se, de fato, o trabalho tem sido produtivo – e não apenas exaustivo. Definir claramente os objetivos para que seja possível medir qual o retorno da energia empregada em um processo. Por exemplo: um time que para realizar uma entrega precisou levar semanas com uma carga horária muito acima da média pode parecer produtivo a um primeiro olhar, mas isso pode representar o exato oposto. Lembre que produtividade é fazer mais com menos. Não apenas fazer mais a qualquer custo.

A busca pela produtividade

Para muitos, produtividade é sinônimo de equilíbrio. Produtividade não é só o quanto você pode produzir, mas como você pode equilibrar suas atividades e ter um resultado satisfatório olhando o todo, levando em consideração sua vida pessoal e profissional, além da sua saúde.

Essa perspectiva de produtividade como equilíbrio, inclusive, só reforça a ideia de que constância é a fórmula para o sucesso. Você ter uma explosão de esforços dedicados a uma só atividade durante um tempo imenso não é nada saudável e desequilibra totalmente os outros lados da sua vida.

Resumindo: é melhor você entregar 30, 30, 30… todos os dias, do que você entregar 170 em um dia e 2 no outro. Por mais que na soma toda você pareça ter o mesmo volume final, no longo prazo o efeito para sua empresa, para sua equipe, para os próprios resultados e também para o seu bem estar, mostrará que a consistência leva a gente mais longe.

Um exemplo de consistência

Vejamos um célebre exemplo, case de Harvard: alguns exploradores tentaram chegar no Polo Sul lá no comecinho do século passado. Eles tentaram chegar ao extremo da Antártida, local que ainda não havia sido explorado por nenhum ser humano. Tentaram de todas as formas chegar naquele ponto.

Existiam dois times. Um time comandado pelo norueguês Roald Amundsen e um time inglês, que tinha Robert Scott à frente. Ambos competindo pela mesma jornada e com estratégias muito diferentes. Um deles, o grupo inglês, avançava o máximo possível com o mínimo de recursos, ou seja, tentava atacar o máximo pela tecnologia, pela inovação, pelo volume de entrega e com o mínimo de recursos.

O outro, o time norueguês, fazia o contrário: tinha uma sistemática de entregar sempre um volume predeterminado todos os dias, faça dia ou faça sol, o seu x quilômetros. Esse segundo grupo, ao invés de buscar tecnologia, inovação, máquinas e aumentar o seu grau de incerteza porque essas máquinas não haviam sido testadas em condições adversas, reuniu-se com esquimós e utilizou aprendizados milenares de como viver e enfrentar situações de frio extremo, tempestades e etc.

Quem levou a melhor?

Roal Amundsen no Polo Sul. Constância como sinônimo de produtividade.

Roald Amundsen finca a bandeira da Noruega no Polo Sul em 1910.

A verdade é que o grupo norueguês, avançando de 30 em 30, enquanto o outro grupo avançava de 190 e depois de 100 e aí 2 e tal. O grupo que avançava de 30 em 30 começou muito atrás, o grupo inglês deslanchou muito na frente, a diferença é que eles começaram a ficar cansados, alguns animais começaram a morrer, pessoas começaram a ficar doentes e a velocidade máxima que esse grupo poderia atingir, mesmo nos dias de melhor visibilidade, menor nevasca e tal, começou a ser menor. E o outro grupo mantinha regularidade, com sua média de 30 por dia, todos os dias.

O fato é que em uma jornada longa, o consistente grupo norueguês acabou preponderando e chegou ao Polo Sul em 14 de dezembro de 1911. O grupo inglês alcançou a meta cinco semanas depois. Exaustos, todos os cinco integrantes morreram tentando retornar da aventura. Apenas uma curiosidade: a estação científica localizada no ponto mais austral do mundo chama-se Estação Polo Sul Amundsen-Scott.

A fórmula para o sucesso

Qual a moral da história contada acima? Transportando para a experiência das empresas, nem sempre ter um volume muito grande de entregas ou ser a empresa mais inovadora, com o maior número de tecnologias, a mais vanguardista, vai garantir um resultado positivo. É óbvio também que só fazer o trivial e ser constante sempre não vai te levar a ascender em um ambiente empresarial, mas vai te levar a ter entregas consistentes. Eu diria que nem o grupo inglês, nem o grupo norueguês sabem exatamente o caminho correto para o negócio. É audacioso falar isso, dado que eu nunca fui ao Polo Sul do planeta, mas eu diria que um híbrido entre os dois de potência de entrega garantindo a consistência é o caminho para o sucesso.

Quem corre, cansa. Devagar se vai ao longe

Falando em moral da história… Existe uma fábula atribuída a Esopo (620-560 a.C., Grécia), registrada posteriormente por La Fonteine (século XVII, França), contada para crianças do mundo toda baseada na mesma lógica. Na historinha, a Lebre a Tartaruga vão disputar uma corrida. Existem diversas versões e diversas representações para esta lição sobre o resultado que quem é lento e constante (“slow and steady”) pode alcançar. Deixo um aqui para ilustrar essa nova conversa:

Quando a gente olha para as maiores empresas do mundo e para as mais crescem hoje em dia, elas entregam com muita potência em muitas ocasiões, mas elas sempre entregam de maneira consistente em todos os momentos, então a consistência dos dois é uma combinação imbatível e muito poderosa para o futuro dos negócios também. Ou seja: para ter uma excelente produtividade, tenha constância e tenha potência. Mas se tiver que escolher entre os dois, escolha a constância porque ela leva à longevidade da relevância do negócio.

Ps: produtividade x constância foi o tema da minha coluna O Futuro dos Negócios, na CBN, em 12 de agosto de 2020. 

Luiz Candreva é um dos principais futuristas brasileiros. Head de inovação da Ayoo, colunista da CBN há 3 anos, diretor de criação do Disruptive.MBA, professor convidado da Fundação Dom Cabral para Futurismo e Transformação de Negócios, TEDx Speaker, palestrante e painelista com mais de 700 apresentações em diferentes países, é também mentor no Programa Scale-Up do MIT Venture Services além de recordista mundial de kitesurf.

Foi board member do Hub/SP e atua como advisor em boards em empresas tradicionais dos segmentos automotivo, bens de consumo e construção, além de startups, inclusive como investidor em algumas.

Luiz Candreva foi o primeiro diretor do Comitê de Internacionalização da Associação Brasileira de Startups.

Mentor em programas de inovação corporativa de empresas como Visa, EDP, Shell, IBM e outras, além de programas de aceleração como os da Techstars, ACE, Wayra, GSV Labs, da ONG Iridescent e do Inovativa, Brasil.

Foi também, por 2 anos, curador da SP Tech Week nas trilhas de marketing digital, inovação e tecnologia.

Foi eleito, por três anos seguidos, top 10 mentor do Brasil pelo Startup Awards da ABStartups + Amazon, mas acredita que prêmio bom mesmo é nota fiscal emitida.

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