Mesmo que você não entenda exatamente o que significa FOMO, é muito provável que conheça alguém que tenha esse quadro ou até se reconheça nos sintomas. Sabe aquela aflição de não conseguir acompanhar tudo o que acontece nas redes sociais ou de por algum motivo, eventualmente, deixar de saber o que acabou de acontecer?
Checar as notificações diversas vezes por minuto, passar horas vendo as postagens de outras pessoas na timeline do Facebook ou tirar fotos a todo momento para postar no Instagram parecem comportamento comuns para as pessoas atualmente, mas podem ser sintomas de algo maior, como o FOMO.
O que é FOMO?
A sigla se refere ao termo “Fear of missing out” que em português quer dizer “medo de perder algo” ou “medo de ficar por fora”. O FOMO foi citado pela primeira vez pelo Dr. Dan Herman em 1996. O primeiro trabalho acadêmico sobre o assunto foi publicado em 2000 no The Journal of Brand Management, tratando como o medo de que outras pessoas tenham experiências, geralmente boas, que você não tem.
Essa experiência parece como uma criança que entra em uma linda loja de doces coloridos, mas tendo apenas uma moedinha no bolso. É o mesmo que enfatizar aquilo que ainda não atingimos, mas que desejamos desesperadamente. Esse exemplo extraído do site mantido pelo próprio criador do termo é para lembrar que perder é fisicamente inevitável. O medo de perder, por outro lado, é uma reação emocional resultante da atitude de manter as opções disponíveis em aberto – em alta consideração.
100% conectados por medo de perder algo
A possibilidade de estarmos conectados o tempo todo, aberta pelo surgimento dos dispositivos de comunicação digital móvel, principalmente, os smartphones, foi o gatilho para o surgimento deste fenômeno. Dessa forma, passamos a estar expostos a um volume nunca antes vivido. Anteriormente, você precisava ir à casa de um amigo ver seu álbum de viagem ou comprar uma revista especializada para ver o que os ricos e famosos andam fazendo em seu tempo de lazer. Agora, toda essa informação está atualizada em tempo real na palma de sua mão.
Pesquisas psiquiátricas afirmam que essa angústia social é provocada porque a relação dos usuários com a tecnologia pode ainda ser imatura. Por isso, ostentações, exposição de uma vida falsamente perfeita e publicidade podem gerar reações como o medo de perder aquela novidade. E isso gera, por outro lado, a sensação de não ter vivido pessoalmente aquela experiência.
Para completar, existe uma angústia de saber o que está sendo discutido em grupos de mensagens de amigos ou mesmo no e-mail corporativo. De ser ágil, não perder o timming do debate. A solução que muita gente encontra é ficar com os olhos colados à tela, esperando não perder aquele momento… imperdível. Pra isso, chega a fechar e reabrir, no mesmo momento, o aplicativo de redes sociais ou mensagem vendo se algo novo chegou. Já viu isso por aí?
Qual a origem do medo de perder algo?
De acordo com o Dr. Herman, a experiência do FOMO é o resultado de um processo cognitivo e emocional de avaliar a capacidade de esgotar oportunidades contra três percepções principais:
- Consciência de oportunidades atraentes.
- Um senso básico de importância, controle sobre a vida e a capacidade de alguém, que se traduz em “Eu devo ser capaz de esgotar todas as oportunidades que desejar”.
- Uma norma percebida de esgotamento de oportunidades por outros.
Em suma, cada uma dessas três percepções pode aumentar o nível de FOMO ou reduzi-lo. Elas foram moldadas em nossa cultura e sociedade por tendências e processos de longo prazo.
Muitas opções, muitas oportunidades. Como escolher?
Dan Herman ainda afirma que há três revoluções tecnológicas;
- A revolução do transporte (aviões, embarcações marítimas, trens, carros e até ônibus espaciais).
- A da comunicação (TV, sem fio, celular, internet etc.)
- Da informação (computadores, sistemas de TI, a internet novamente, tudo digital) e o resultado do globalismo nos expuseram a uma variedade espantosa de oportunidade em todas as áreas de nossas vidas.
O recente aumento das mídias sociais e o desenvolvimento da tecnologia de dispositivos móveis aumentaram gradualmente a nossa consciência imediata sobre a infinidade de opções que temos.
O “comportamento de busca de variedade” está se tornando a regra, e não a exceção. Isso significa que as pessoas alternam rotineiramente de uma opção para outra porque são motivadas pela utilidade inerente à experiência da variedade e à própria mudança.
Existem três motivações principais para os consumidores buscarem variedade:
- Afastamento da saciedade
- Novidade, descoberta e estimulação
- A alegria da escolha
Três exemplos do Fear of Missing Out
1. Ficar o tempo inteiro com seu smartphone ou notebook
Você não consegue parar de olhar para o seu celular com medo de perder alguma notificação nas redes sociais? Então você exibindo uma ansiedade sobre as experiências vividas por outras pessoas. É normal atualizar-se rapidamente sobre o que está acontecendo na internet ao final do dia ou enquanto espera um encontro. Mas se constantemente você arrasta a tela em busca de novas postagens, seu entusiasmo pode ser preocupante.
2. Interromper uma tarefa importante, às vezes urgente, para responder mensagens
Então, se você estiver à espera de uma mensagem importante, principalmente em relação ao trabalho, tudo bem parar por alguns instantes. Mas se isso virar um hábito e você se permitir ser interrompido toda vez que chegar alguma notificação no seu celular, isso diminuirá a sua produtividade consideravelmente e pode se tornar um problema para você.
Além disso, adiar compromissos por algo que nem tenha tanta importância, é um aspecto do fear of missing out.
3. Comprar sempre os últimos lançamentos com medo de ficar para trás
Seja um celular, notebook ou até um tênis. Muitas pessoas estão dispostas a encarar longas filas em lojas ou gastar mais do que está previsto em seu orçamento para bancar essa necessidade de não ficar atrasado ou desatualizado mesmo que comprem algo sem realmente precisar.
FOMO tem um lado bom?
Dr. Herman aposta que sim. O FOMO é um importante fator contribuinte para 10 fenômenos psicológicos e socioculturais e para o desenvolvimento de tendências que moldam nossas vidas atuais. O juízo de valor sobre eles fica por conta da interpretação individual, certo?
Conforme você for lendo a lista a seguir, observe como todos eles são uma expressão ou resultado de nosso desejo de ter opções disponíveis para nós e de nossa tentativa sísifa (ou inútil) de esgotar o maior número possível deles:
- Atualmente, muitas pessoas tentam seguir uma carreira, aproveitar a vida familiar, além de atividades sociais, hobbies, treinamento físico e muito mais.
- Estamos constantemente conectados através de nossos dispositivos móveis e mídias sociais, estamos disponíveis para comunicação de todas as maneiras possíveis.
- Agora participamos de comunidades em vez de pertencer a elas. Participamos de diversas comunidades, virtuais ou presenciais a qualquer momento, em caráter temporário, evitando o total comprometimento com qualquer uma delas.
- As pessoas que são consideradas mais “interessantes” têm uma ampla gama de interesses e ocupações, fazem mudanças na aparência, no estilo de roupas e exibem abertura para explorar novos conceitos, designs ou gastronomias.
- Nossas vidas são caracterizadas pelo imediatismo e somos rápidos em responder às oportunidades e adotar novos comportamentos, estilos, produtos e marcas. Consequentemente, não persistimos neles.
- Como parte de nossa atualidade, estamos constantemente à procura de novas experiências, preferindo recompensas instantâneas às coisas boas que chegam àqueles que esperam.
- Ficamos horrorizados com o pensamento do envelhecimento, o último desaparecimento. Tentamos todos os meios de prevenção anti-envelhecimento, passamos por cirurgia plástica e outros tratamentos cosméticos para parecermos mais jovem.
- Muitas pessoas vivem em mais de uma unidade familiar durante a vida e é provável que tenha mais de um relacionamento íntimo significativo.
- Muitos homens e mulheres experimentam crises de meia-idade e optam por fazer uma pausa em suas vidas para explorar experiências diferentes.
- As realocações para diferentes cidades e países (assim como outros tipos de mobilidade) são comuns na atualidade. Desejamos experimentar a vida em outros lugares e encontrar novas possibilidades.
Como amenizar o vício em redes sociais?
- Diminua o tempo que passa no celular
- Pratique meditação
- Faça cursos livres de algo que você gosta ou artísticos
- Procure um profissional
Pesquisas realizadas nos Estados Unidos e no Reino Unido apontaram que a maior faixa etária com pessoas afetadas é de 18 a 35 anos. A síndrome é um dos principais sintomas de um vício em redes sociais e pode causar desde angústia e frequentes estresses até depressão. Com crianças pequenas, vale reforçar o cuidado quanto ao volume de conteúdo digital consumido, principalmente quando pais permitem que os pequenos tenham suas contas em redes sociais. Entretanto, o diagnóstico do FOMO deve ser feito a partir de uma consulta com profissionais, buscando o melhor tratamento psiquiátrico.
FOMO tem faixa etária, classe social ou gênero?
Não são apenas os jovens adultos que estão sofrendo com o medo de perder: até mesmo as crianças estão ficando estressadas. Se o problema atrapalhar o cotidiano da pessoa, é importante buscar um psicólogo ou profissional de saúde mental e emocional para ajudar a lidar com a questão.
E aí, se identificou com algumas das características listadas? Se sim, por menor que ele seja, não deixe que o FOMO e o vício em redes sociais atrapalhe a sua qualidade de vida. Busque ajuda de um profissional que saberá a melhor forma para ajudar você a aproveitar o momento de hoje 😉