Evolução da Comunicação Humana: como chegamos aqui

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Entender a evolução da comunicação humana nos ajuda a entender como conseguimos acumular e transmitir conhecimento através do tempo e do espaço. Porque quando deixamos registros, as novas gerações conseguem aprender o que seus antepassados já sabiam e partir de um novo patamar. E quando a mensagem pode ser espalhada sem que o emissor precise estar colado a ela, ela ganha capilaridade no espaço.

Se você quer imaginar como era o hominídeo que não tinha linguagem, aquele de antes de toda a evolução da comunicação, olhe para uma criança que tenha menos de um ano. Ela chora, sorri e expressa uma ou outra emoção, mas sem raciocínios mais complexos. Ela, no futuro, nem conseguirá lembrar o que aconteceu porque é a linguagem que nos ajuda a organizar a memória. Além disso, não consegue ter o que passa em sua mente desvendado com uma boa precisão. Por mais sábias que as mães sejam, um choro de “minha barriga está doendo” ou “a meia está pinicando meu pé” não são muito distintos. 

Como foi a evolução da comunicação

Pois bem. Assim fomos no passado, desta vida, assim foram nossos ancestrais. Com forte limitação para expressarem o que sabiam e, consequentemente, restrições para que esse conhecimento chegasse a outros de sua comunidade. Mais difícil ainda que isso chegasse a grupos de outras partes. Mas com o caminhar da evolução da comunicação, muita coisa mudou. 

Não tenho a pretensão de tratar de um tema objeto de estudo da antropologia e linguística em profundidade, mas apenas trazer os elementos centrais desse raciocínio. Apoio esse artigo, parcialmente, em dois livros muito mais científicos – e lá no final deixarei a referência para eles.

Era dos Símbolos e Sinais

Na vida pré-hominídea e proto-humana, tínhamos como recursos gritos, berros e posturas corporais. As mensagens e instruções curtas e simples, transmitidas vagarosamente, na base da tentativa e erro. Era preciso ter contato direto com o emissor para haver algum nível de troca, muito próximo do que acontece com outras espécies do reino animal.

Idade da Fala e da Linguagem

Com o Homem de Cro-Magnon, que viveu entre 90 e 40 mil anos atrás, houve o início do desenvolvimento da linguagem. Estima-se que isso tenha ocorrido aproximadamente há 55 mil anos atrás. Os grupos conseguem começar a trocar instruções mais complexas, como alertas sobre perigos iminentes. São estes nossos ancenstrais que desenvolvem o primeiro tipo de comunicação que transcende nossa própria existência. Deixava-se legado para futuras gerações com representações artísticas em pinturas nas paredes, ossos e pedras e também algumas esculturas.

Era da Escrita

A sofisticação da comunicação humana assíncrona fica mais refinada com a escrita. Assim, a mensagem enviada para outros pontos em tábuas ou placas de argila, inicialmente, e papiros posteriormente, poderiam conter informações sobre produtos, normas ou ritos religiosos. Chineses, maias, sumérios e egípcios são alguns dos povos que 5 mil anos atrás tinham um sistema pictográfico e posteriormente escrita fonética. Com a evolução da comunicação, passamos a ter a comunicação entre gerações, ou seja, a passagem de conhecimento através do tempo torna-se mais rica e complexa e menos dependente do contato pessoal com o mentor.

Idade da Imprensa

Os chineses e outros povos já tinham a prensa. Mas eram feitos moldes inteiros de cada página, algo semelhante à litogravura ou xilogravura que ainda vemos hoje, artisticamente, no cordel. Voltando mais, na Suméria já existiam cilindros em negativo capazes de gerar cópias de textos. Mas ainda assim, era trabalhoso, caro e demorado ter as matrizes. Foi no ano de 1455 que Joahannes Gutenberg pensou num jeito mais eficiente de fazer cópias, já que a maioria dos livros eram reproduzidos por copistas, manualmente. Ele teve a ideia de fazer a prensa de tipos móveis, uma ideia que também já existia, em metal e integrada à prensa.

As letras em chumbo eram montadas, uma a uma, até que fosse composta uma página a ser prensada inúmeras vezes. Gutenberg não ficou rico com seu invento, que demorou um pouco para ser popularizado. Mas a facilidade e o menor custo de reprodução fizeram a prensa de tipos móveis disseminar-se pela Europa e posteriormente para outros continentes. Foi essa máquina que permitiu que a informação se disseminasse muito rapidamente com livro, panfletos e jornais. A partir daqui, o intervalo entre as novas formas de comunicação ficam menores e o conhecimento humano multiplica-se com muito mais velocidade.

Na evolução da comunicação, a Bíblia de Gutenberg, de 1755, é um grande marco.

Páginas da Bíblia de Gutenberg, do projeto Biblioteca Digital Mundial (clique na imagem para folhear)

Era da Comunicação da Massa

Nos século XIX e XX, os jornais se consolidam como prolongamento da era da imprensa. Mas são os meios de comunicação eletrônica e, sobretudo, o audiovisual que passam a conectar grandes comunidades em tempo real, dando uma grande evolução na comunicação. Agora, a comunicação de massa é à distância e imediata, mas ainda apenas do emissor para o receptor. Sim, era possível usar o rádio, invenção atribuída ao italiano Guglielmo Marconi, para falar e ouvir, mas isso apenas entre dois pontos. Países inteiros começam a ter as mesmas informações, ao mesmo tempo. E com os satélites, as emissoras se consolidam como meios intercontinentais.

A transmissão de TV ao vivo para o mundo todo deu novo salto para a evolução da comunicação, como no momento do pouso da Apollo 11 na Lua, visto pelo papa Paulo VI

O Papa Paulo VI assiste ao pouso da Apollo 11

É verdade que os rádios de ondas curtas já atingiam distâncias gigantescas, mas a transmissão de imagens ao vivo nos anos 1960 foi um grande marco na disseminação de conteúdos. A chegada da Apollo 11 à Lua, em 1969, por exemplo, foi acompanhada de todos os lugares do planeta ao mesmo tempo, ainda em preto e branco e mesmo com outros conteúdos transmitidos anteriormente é um evento histórico também pela maneira como foi difundido.

Era dos Computadores

Um próximo salto gigantesco acontece no final do século XX, quando computadores saem das Ciências Exatas e chegam no coração das Humanas quando são conectados pela Rede Mundial de Computadores, a World Wide Web – WWW. Dos anos 1990 pra cá, vivenciamos uma experiência na qual, virtualmente, qualquer pessoa se torna produtora de conteúdo. Claro que passamos por um processo de redução de desigualdades, ainda temos analfabetismo no mundo, por exemplo, mas quando foi possível ter, em casa, na escola ou em uma lan-house, um computador conectado a uma rede com uma parte considerável de tudo já produzido pela humanidade, a troca de informações passou a ser cada vez mais acelerada.

Era da Comunicação Móvel

Mas foi no início do século XXI que a democratização do acesso à informação tomou contornos universais, de fato. Com os smartphones, muito mais baratos e fáceis de usar do que os desktops, além de terem a vantagem de serem equipamentos portáteis, o conhecimento passou a ser acessado – e a produzido – de todas as partes, a qualquer momento, em tempo real, num volume gigantesco. Em janeiro de 2020, já haviam 5,19 bilhões de usuários de internet móvel, ou seja, 67% por cento das pessoas da Terra conectadas. A média global é de 3 horas e 22 minutos on-line a partir de dispositivos móveis.

Como o head de inovação da Ayoo, Luiz Candreva, gosta de pontuar em suas palestras. A transformação é acelerada quando temos acesso e mudança de modelo mental. E este acesso é o acesso à informação. Nunca tivemos tanto acesso a tanto conteúdo e estamos crescendo com uma aceleração incrível. Mas a História da Evolução da Comunicação Humana não escreveu sua última página com o mobile.

Era da Comunicação Cérebro-Máquina

Estamos perto de termos a tecnologia que remove a dependência de telas, teclados, microfones e autofalantes. A conexão direta entre cérebro e máquina já está sendo testada de forma laboratorial para dar, inicialmente, comandos como mover braços e pernas mecânicos ou um pequeno veículo através de um labirinto. Mas com o meio tecnológico, chega a possibilidade de algo parecido com o vimos no filme Matrix: fazer upload diretamente no cérebro de volumes de conhecimento. E também, por que não?, guardarmos o que há na nossa mente em uma máquina.

Há um provérbio indiano que diz mais ou menos o seguinte:

Quando alguém sábio morre, queima-se uma biblioteca.

Poderemos, em breve, manter a biblioteca a salvo.

Era da Comunicação Cérebro-Cérebro

O neurocientista Miguel Nicolelis aponta uma próxima fase, que ele chama de brainnet, a internet de cérebros. Este conceito sobre evolução da comunicação está bem descrito em seu livro  “Muito Além do Nosso Eu”. Nesta fase, poderíamos conectar diretamente nossas mentes. Sim, uma espécie de telepatia, mas sem misticismo, mediada por tecnologia.

Seria possível, neste ponto, uma total empatia. Conhecer exatamente a experiência de outra pessoa. Transferir estes conhecimentos de uma para outra pessoa numa troca quando conectaríamos todos os bilhões de cérebros. Eu sei. Parece coisa de ficção científica. Mas se você contasse a um soldado da Primeira Guerra sobre seu iPhone, ele diria que você era completamente louco, não é?

Mais conhecimento, novos riscos

Sim, tudo isso suscita importantes debates sobre privacidade, cybersegurança, domínio sobre populações… Mas fiquemos apenas com o entendimento da jornada que nos trouxe das cavernas de Lascaux – e até antes delas – até aqui, com você lendo este texto na tela de um equipamento na palma da sua mão. Um caminho e tanto.

Aqui, estamos embasados nos professores Melvin L. DeFLeur e Sandra Ball-Rokeach que publicaram o livro Teorias da Comunicação de Massa. Sim, há muitas lacunas que não caberiam num artigo para o portal. Mas o que queríamos que ficasse claro é que estamos num momento riquíssimo, com oportunidades que nossos antepassados sequer sonharam. Vamos usar isso para levarmos as próximas gerações ainda mais longe.

Jornalista, produtora cultural, meio nerd, cinéfila, Gabriela de Paula é apaixonada por aprender coisas novas e por conversas produtivas. É editora-chefe da Ayoo.

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