O poder do coletivo sempre foi incontestável, foi a capacidade humana de criar grupos, movida por nosso cérebro social, que nos deu relevância como espécie. Quando há a reunião de pessoas em prol de causas ou objetivos em comum, temos uma comunidade. Na internet não é diferente. As relações estão se estabelecendo cada vez mais de forma virtual e, sem dúvida, as comunidades estão se fortalecendo como instrumentos que criam valores e oportunidades por meio de interação voltada para um norte específico.
A importância, o papel e tudo que envolve a criação e manutenção desses espaços para que eles passem a agregar valor de fato para os seus membros é o tema deste artigo. E, sobretudo, como estabelecer uma comunidade sólida e legítima pode fazer a diferença para o seu negócio.
O que é comunidade?
Por definição, comunidade é um estado ou qualidade das coisas materiais ou das noções abstratas comuns a diversos indivíduos; comunhão. O termo pode ser aplicado em várias instâncias e contextos, mas essa ideia de união de indivíduos com características e crenças em comum permanece em qualquer situação.
Ao longo da História, ouvimos vários relatos sobre o poder de algumas comunidades, sobre como as pessoas conseguiram fazer coisas extraordinárias partindo do princípio de se unirem e isso não é menos impactante no mundo digital. Ao contrário, já que a possibilidade de construir pontes por afinidades que superam as barreiras geográficas torna a relevância de agrupamentos em torno de uma causa algo ainda maior.
Criar comunidades, sejam elas territoriais ou por um hábito que gere essa ligação, é da essência humana. Nos negócios, como nas demais, é compreender por que essas comunidades existem. E ter interação, troca em via mão-dupla. Nesse sentido, o do universo dos negócios, há duas principais vertentes que devem ser olhadas e equilibradas para a construção e manutenção de comunidades. A saber, são elas:
- Human Centric;
- Competição e colaboração.
Por causa da sua relevância, estes foram os temas tratados no primeiro dia do Ayoo Summit Extentend, evento online que tratou de Comunidade e Liberdade e pode ser visto na íntegra na janela abaixo. O conteúdo, em resumo, é o objeto deste artigo.
Primeiramente, vamos tratar do painel que contou com as presenças de Jenniffer Medeiros – Head Of Community na Keiretsu, Marcos Medeiros – Community Manager na Ambev, Rafael Belmonte – Cofundador da Netshow.me, GV Angels e GV Ventures, além da mediação de Silvana Oliveira – Diretora de Jornalismo na Rádio Sociedade.
Human Centric
Marcas não podem mais olhar para o cliente desconsiderando suas características como pessoas. O conceito de human centric, colocando as pessoas como base de toda a estratégia, tem ligação estreita com a formação de uma comunidade. O que olhar para criar este tipo de relacionamento?
Antes de mais nada, é preciso que todos – igualmente públicos interno e externo – tenham as expectativas alinhadas em relação ao alvo, para que o processo se desenrole com menos fricção. É importante, também, desenvolver e cultivar o senso de pertencimento dos membros dessa comunidade, porque mais do que qualquer outra coisa, é ele que vai movimentar o coletivo na direção apontada pelas estratégia.
Uma comunidade é formada em torno de valores compartilhados. Entender quais as características em comum que agrupam aquelas pessoas torna relações mais longevas. Por isso é importante revisitar o que agrupa as pessoas e isso guiará a trajetória.
O papel da liderança na comunidade
Apesar da ideia de comunidade ressoar de várias pessoas, é indispensável um papel de liderança. É, inclusive, dever dessa liderança de despertar o senso de pertencimento dos membros através do protagonismo de cada um deles. Um gestor de comunidade precisa definir muitas coisas, tais como:
- Propósito;
- Valores;
- Regras;
- Rituais;
- Métricas…
Essa liderança tem um papel fundamental de integrar as pessoas. O conceito de human centric é notável nessa experiência: quanto menos automatizado e mais centrado no ser humano você for, você conseguirá construir comunidades que resistem ao tempo. A importância das relações humanas tomam outras proporções quando falamos de comunidades.
Justamente por lidar com pessoas, é algo extremamente complexo, que sempre deve ser voltado para o equilíbrio. O gestor está muito mais voltado para processos e o líder para pessoas. E quando falamos do universo empresarial é preciso mesclar as duas características. Se você for só voltado para pessoas, o processo deve estar ou inexistente ou quebrado. Mas se você for só para o processo, você provavelmente vai ter algo muito organizado, pronto, mas que ninguém se conecta.
O desafio de crescer sem destruir relações passa pelo propósito da marca e pela cultura que existe dentro da empresa. Na construção da comunidade de pessoas que fazem o negócio existir, é preciso considerar que o que elas acreditam e o que querem experienciar dentro de suas carreiras vem ganhando importância nas decisões profissionais que podem pesar mais do que remuneração. Em outras palavras: estamos diante de uma geração que quer uma carreira e uma relação de consumo com marcas alinhadas com seus valores.
Os líderes que consigam comunicar isso de forma transparente, estarão no caminho de ter uma comunidade ligada por fatores mais profundos do que as vantagens financeiras. Ou seja, estarão construindo relações com mais longevidade.
Competição e colaboração dentro e fora das empresas
Colaboração acaba sendo um termo fortemente ligado ao senso de comunidade, mas onde fica a competição, que, ao mesmo tempo, é tão intrínseca no ser humano? Para discutir essa perspectiva, o segundo painel teve a participação de Cláudia Toledo – Proprietária da Toledo Comunicação, Larissa Caruso – CEO & Founder da QC, Luiz Heiras – Fundador da Tribos.co, e a mediação de André Arcas – Coach de Palco.
Construir uma cultura de colaboração é fundamental e ela é importante em qualquer trabalho. É muito bonita a palavra colaborativa, mas ela precisa ser aplicada e cabe à liderança o papel de criar este ambiente colaborativo. Antigamente, ganhava o mercado quem era o mais forte. Hoje ganha quem tem alianças mais fortes e as pessoas que entendem como construir estas pontes multiplica seu potencial de ação.
Por outro lado, existem desafios e fazer algo colaborativo requer muito mais energia, muito mais esforço, demanda muito mais tempo… fazer sozinho é muito mais simples, mas o fazer junto gera muito mais valor. Inegavelmente, a colaboração gera engajamento nas pessoas que, por tabela, elas vão performar mais e inovar mais. Desta forma, já começamos a ver líderes que começando a focar em fazer seu time trazer as respostas, trazer a inovação. Consequentemente, que a partir daí consigam construir algo juntos ao invés de uma só cabeça pensando.
A colaboração dentro das comunidades corporativas
A essa altura já ficou claro que cada vez mais nosso olhar deve ser voltado para as pessoas como seres únicos. Ao mesmo tempo, entendemos que a união de indivíduos com o mesmo propósito é fundamental para alavancar negócios e que a formação das comunidades se dá alicerçada na colaboração.
Um ponto importante sobre colaboração e a formação dessa cultura é que a mudança cultural tem que vir da liderança porque o time é influenciado por seus líderes. Se a liderança não tiver essa mentalidade de tornar a cultura colaborativa, dificilmente vai acontecer esse processo.
E há muitos exemplos que podem inspirar a formação de novas comunidades, sem precisar reinventar a roda. Por fim, a experiência tem uma importância muito grande para a consolidação de um grupo em torno de uma causa porque geram mais impacto do que produtos e serviços.
Então, você se sente parte de alguma comunidade ligada em torno de uma marca ou empresa? É importante estar atento a elas principalmente porque fazemos parte de várias, aliás, já nascemos em uma: a nossa família.