Depois das Gerações Y e Z: o que esperar da Geração Alpha

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Desde que a conexão móvel digital tornou-se algo corriqueiro, já que duas a cada três pessoas no planeta têm acesso a esta tecnologia, a velocidade das mudanças já vinha aumentando. Por conta do distanciamento social adotado no cenário de pandemia da COVID-19, estudiosos acreditam que avançaremos ainda mais na transformação digital. Além disso, afetará o modelo mental sobre o uso das tecnologias da informação e comunicação nas nossas vidas, algo mais corriqueiro para as gerações Y e Z. Tivemos um grande incentivo para criar um novo significado para “normal”.

Nas últimas duas décadas, algumas gerações estão tendo mais facilidade para lidar com as ferramentas do que às formadas por pessoas que nasceram num mundo off-line e precisam adaptar seus hábitos. Uma vez que a Geração Alpha é a primeira a pertencer ao mundo 100% digital, é fácil entender porque ela sai na frente das Gerações Y e Z nesse sentido, não é? Mas antes de achar que quem nasceu antes dos anos 1980 está totalmente obsoleto, precisamos, sem dúvida, entender o que cada grupo tem de características e assim melhorar o relacionamento entre todos.

O que são as Gerações Y e Z?

Geração Y e Z são aquelas que abrangem, em geral, os nascidos a partir de 1978. Mas antes de passar uma régua e achar que o réveillon de 77 passou um traço no chão da história da humanidade, por mais que seja tentador classificar desta forma, não é assim que o mundo gira. Antes de mais nada, vamos lembrar que futuro não é homogêneo, presente também não. Na terceira década do século XXI ainda temos pessoas que vivem sem água, saneamento ou energia elétrica. Portanto, vamos deixar claro que estas datas são para fins didáticos e talvez você conheça alguém nascido em 1968 muito mais millennial do que gente 20 anos mais jovem. Combinado?

No meu tempo, a TV, quando tinha, era preta e branca

Vamos começar pelo começo? Antes das Gerações Y e Z nós tivemos tantas outras, mas vamos recortar nas três imediatamente anteriores porque impactam com mais intensidade na nossa cultura atual.

Os chamados Builders – construtores ou tradicionais são aqueles que que nasceram até 1945 e foram as pessoas que enfrentaram guerras mundiais e até mesmo os reflexos da Grande Depressão e a pandemia de Gripe Espanhola. O contexto social fez com que essa geração fosse mais prática, dedicada, com uma queda por hierarquias rígidas. São aquelas pessoas que muitas vezes dedicam sua vida inteira a uma única empresa e tem o costume de sacrificar muito para conquistar seus objetivos. Estabilidade é sinônimo de sucesso. Ouvem Frank Sinatra, Jazz, Bossa Nova. Frequentam o cinema aos domingos para ver filmes épicos de Hollywood.

Bem antes das Gerações Y e Z, vieram os Builders, nascidos até 1945

A Geração Builder, nascida entre 1930 e 1945, foi marcada pela disciplina e estabilidade.

Os filhos dessa geração que teve que sobreviver e reconstruir o mundo são os Baby Boomers, frutos da explosão de nascimentos quando as bombas cessaram, os filhos do pós-guerra. Esse movimento foi muito forte nos Estados Unidos e Inglaterra, com os soldados voltando pra casa e tendo filhos. Os boomers são caracterizados por romper padrões e lutar pela paz. Uma vez que desconhecem o mundo destruído que fora a realidade dos seus pais, são otimistas por natureza, mais voltados para valores pessoais e na educação dos seus próprios filhos. São focados, têm uma relação baseado em extremos com seus superiores e preferem agir de acordo com um consenso. Foi a geração que começou a aceitar o divórcio. Ouviam Rock’n Roll, Jovem Guarda e a Barbie é um ícone.

Os adolescentes dos anos 1960 e 1970, Baby Boomers do final da fase são pais da Geração Y e Z.

Liberdade, amor e paz mundial são valores dos Baby Boomers, que romperam padrões.

Geração X, a transição

Encerramos esse passeio introdutório com a Geração X, composta por aqueles que nasceram de 1965 a 1977. Foi uma geração que já pôde pensar em estilo e qualidade de vida, de tal forma que podem ser os responsáveis pelo reinício do empreendedorismo. Por visarem liberdade, o avanço tecnológico do momento criou condições para começarem as tentativas de equilibrar vida pessoal e trabalho. Afinal, muitos foram criados por pais divorciados e com foco muito grande no sucesso profissional.

Um iMac, computador pessoal que marcou a Geração X, que começou a transição para o digital consolidada nas Gerações Y e Z.

O computador pessoal, como o iMac, marcou a transição para o mundo conectado.

No entanto, as crises econômicas, como a hiperinflação e o desemprego nos anos 1980 até o meio dos anos 1990, influenciaram características como ceticismo e superproteção na criação que receberam. Foi a geração dos cursinhos de inglês e da forte ligação com a televisão aberta, uma babá eletrônica, e muito tempo com amigos na extensão do telefone fixo que ficava no quarto. Mas foi entre eles que começou a febre do computador pessoal e videogame, mesmo que fosse um Atari. Assistiam seriados, de McGyver a Friends, passando por Arquivo X e Barrados no Baile, ouviram Nirvana, Guns’n Roses, Madonna e Michael Jackson, viram nascer os Simpsons.

A partir de 1978: os Millennials

Temos, finalmente, a Geração Y! Essa galera já foi muito criticada, já foi chamada de superficial, distraída e até egoísta, mas não podemos negar que os nascidos nessa geração se preocupam com o meio ambiente, possuem valores morais muito fortes e já vieram prontos para mudar o mundo.

Primeira das Gerações Y e Z, os MIllennials finalizam a transição pro mundo conectado.

A rede mundial de computadores é a grande marca do jeito Millennial de viver.

No Brasil, os Millennials já são maioria e representam cerca de 50% de toda força de trabalho. A divisão entre as gerações no país, cronologicamente, fica mais ou menos assim:

  • Baby Boomers: 16%
  • Geração X: 26%
  • Millennials: 24%
  • Geração Z: 24%

Transformando essa porcentagem em números reais, temos:

  • Baby Boomers: 33 milhões de pessoas
  • Geração X: 55 milhões de pessoas
  • Millennials: 70 milhões de pessoas
  • Geração Z: 51 milhões de pessoas

Mas como difusão de tecnologias e hábitos nem sempre ocorrem de maneira linear pelo mundo, aqui no Brasil há sociólogos que preferem identificar os Millennials verde-amarelos como nascidos a partir de 1981 ou até 1984. E há quem diga que esta geração chega até os nascidos na virada do milênio. São aqueles mais ligados em tecnologia digital, que cresceram com videogames, mais do que televisão. É a geração da maioria dos startupeiros.

É um grupo refratário ao marketing tradicional, que desconfia de papo de vendedor, já que foi brutalmente exposto à publicidade desde a infância, no auge dessa forma de comunicação de massa. São fortemente ligados à tecnologia, quase fascinados, porque eram muito novos quando muito do que hoje é padrão surgiu. Foram à escola antes do Google e por serem a geração da transição, sabem fazer a ponte entre o mundo tecnológico e digital. Mas já são considerados nativos digitais, mesmo que tenham passado vivido o surgimento destas ferramentas, eram jovens o suficiente para encararem tudo isso com naturalidade.

Os Millennials, em geral, tiveram filhos mais tarde ou escolheram não ser pais. Passaram pela internet discada, Mirc, Orkut e Yahoo. São a geração do Google, do Facebook, do iPhone, mas também no notebook e dos reality shows. Da mudança de carreira por um propósito, já que trabalho traz realização pessoal. Assistem filmes de heróis – Marvel ou DC? -, jogam on-line, ouvem indie-pop, soul-pop, indie-pop e usam um visual mais descolado, o que pode incluir tatuagens e piercings. É a geração da liberdade e da flexibilidade.

A partir de 1997: A Geração Z

Ela é a maior geração de todos os tempos e tem números significativos não só no Brasil, essa geração compreende quase 30% da população mundial! Traduzindo: globalmente, existem cerca de quase 2 bilhões deles, que também são conhecidos como GenZ.

Mais nova entre as Gerações Y e Z, os nascidos a partir de 1997 nunca viveram sem internet.

Selfies, youtubers e influencers fazem parte da cultura da GenZ.

Hoje, as pessoas da Geração Z são aquelas que lotam nossas escolas e universidades. Os nascidos nessa geração compõem a primeira delas a ser totalmente global, formada no século XXI, conectada por dispositivos digitais e engajada nas mídias sociais. Por isso, são conhecidos também como parte da “geração conectada”. São viciados em tecnologia e não enxergam possibilidades no mundo off-line. A maioria nunca viu uma enciclopédia.

Até 2025, eles vão representar 27% da força de trabalho mundial, um em cada dois deles prevê possuir diploma universitário. São o oposto dos tradicionais no que diz respeito a carreira: um cara da Geração Z deve trabalhar em 18 empregos, 6 carreiras e viver em 15 casas ao longo da vida! É a geração da mobilidade, mas também arrisca menos: gosta de segurança e estabilidade, achando os Millennials agitados demais.

É a geração que consome conteúdo on-line, tem seu youtuber ou influencer preferido, fala por memes e não tem qualquer ligação com revistas e televisão. Seu conteúdo é on-demand pelo viral do momento. São pessoas que, acima de tudo, detestam rótulos. É a geração que gosta do exclusivo, da personalização, da compra on-line, que ouve K-Pop, Kesha e Rihanna, vê anime, está engajada em causas sociais e ambientais e alterna entre vários aplicativos.

A Geração Alpha

Nossas crianças fazem parte da Geração Alpha, que abarca aqueles que nasceram depois 2010 e são os filhos da Geração Y. Os números impressionam: 2,5 milhões de Alphas nascem por semana em todo mundo. A Geração Alpha é considerada a verdadeira geração milenar, uma vez que é nascida e modelada completamente no século XXI! Com os avanços da medicina e o aumento da expectativa de vida, estas hoje crianças chegarão em grande número ao século XXII. Eles são os reais “nativos digitais”, é a geração mais materialmente dotada e tecnologicamente alfabetizada!

Depois das Gerações Y e Z, vem a Alpha. Crianças para quem a conexão móvel é o normal.

Aquele dedinho apontado pra tela de toque, de quem nasceu no mundo da conexão móvel.

Os Alphas herdam o mundo formatado pelas Gerações Y e Z. Como resultado, já fazem parte de uma geração mais inteligente e o motivo disso, em resumo, pode ser sintetizado em uma única palavra: estímulo. Não que estejamos duvidando da sua capacidade de ler e-books, usar serviços de streaming ou assistentes virtuais, mas a diferença é que você teve que aprender isso ao longo da vida, ao contrário de um Alpha, que já nasceu nesse cenário tecnológico e se aproveita disso.

É muito comum ver crianças usando smartphones e tablets como se fossem parte deles, alguns antes de aprenderem a falar. A tecnologia não as assusta em nada, essa é uma geração que aprende fazendo. Por isso, mexem em todos os botões que aparecem nas telas, e estão familiarizados com os assistentes virtuais e busca por voz.

Os pais Millennials criando os Alphas pro futuro

Os Millennials, agora pais, sentem-se confortáveis em integrar wearables para mapear dados de saúde e segurança das crianças. Uma pesquisa da centenária associação IEEE também mostrou que estes pais veem com naturalidade o uso de inteligência artificial para diagnósticos e tratamentos, por exemplo. Crianças Alphas são naturalmente autodidatas e 27% dos pais que responderam à pesquisa afirmaram que seus filhos valorizam os iPads ou iPhones mais do que todo o resto.

A presença das tecnologias tem impacto na experiência de aprendizagem. Mas a principal diferença está na maneira como as escolas precisam receber estes meninos e meninas. Mais ainda do que era exigido pelas Gerações Y e Z, as escolas devem tornar-se ambientes que estimulem a experiência e a curiosidade. Professores, por exemplo, desde o ensino infantil devem aproximar-se do que faz um orientador de pesquisa, que conduz a busca pelo conhecimento, não mais havendo espaço para apenas reproduzir conteúdo.

Eles terão que conviver com a inteligência artificial e, por isso, precisam ser muito criativos. Será a geração que vai criar o que ainda não conseguimos imaginar.

Aprender a aprender

Você deve ter alguma criança Alpha por perto. Filho, sobrinho, neto ou afilhado. E deve se perguntar o que fazer para preparar alguém para um mundo onde a mudança é a constante. Estimular a curiosidade e o autoditadismo é um excelente caminho para que estes pequenos ocupem espaços de destaque no mundo de amanhã.

Valorize a habilidade de aprender a aprender, a desaprender e a reaprender. Habilidades replicáveis, em breve, poderão ser executadas por dispositivos dotados de inteligência artificial. E neste ponto, portanto, que você poderá dotar os Alphas do grande valor de serem curiosos e criativos, estimulando o que já é natural deles. E não somos nós quem dissemos isso. Foi um dos maiores pensadores da atualidade, o norte-americano Alvin Toffler.

O analfabeto do século 21 não será aquele que não consegue ler e escrever, mas aquele que não consegue aprender, desaprender…

Então, se você quer dar longevidade à relevância das suas crianças, procure dar-lhes um amplo repertório de experiências que possam gerar insights para soluções de problema do mundo. E não se assuste se seu Alpha decidir que um diploma não é a dele. Há muita coisa importante para aprender na universidade, mas talvez ele queira buscar outras fontes e conhecimento, mais dinâmicas.

O passar do tempo

Nesse artigo, atravessamos muitas décadas dando as características dos nascidos de cada geração e alguns dos desafios que encontraram ao longo da vida. Mas você consegue relacionar, na prática, a evolução que esse passar do tempo significou? Resumimos o principal numa tabela para ajudar a consolidar as principais características de cara geração.

Tabela que traz resumo das Gerações Y e Z, além da antecessora, X e dos próximos, os Alpha.

E não podemos perder de vista que as gerações coexistem na sociedade e no mercado de trabalho. E que é preciso ter uma convivência saudável onde o aprendizado entre visões diferentes do mundo quando cruzados, inegavelmente, trazem ganhos para todas as pontas. No final do dia, somos o resultado da soma de todas as experiências da humanidade.

O que vem depois?

Ao contrário das Gerações Y e Z, as gerações nascidas depois delas estão imersas nas tecnologia desde o berço e isso reflete nas suas próprias constituições. Se a Geração Alpha já é mais inteligente que as anteriores e vive nesse contexto, o que ela não pode fazer criar com a faca e o queijo na mão? Acesso e mudança de modelo mental são a chave dos avanços tecnológicos em toda a História. E depois dos Alphas, que aprenderam a aprender e buscam o próprio conhecimento de forma descentralizada? O que esperar da geração Beta?

Dos nossos disrupters. A equipe de redatores da Ayoo tem o compromisso de entregar conteúdo de qualidade para que cada um dos leitores possa aplicar o conhecimento à sua realidade. Não damos receita pronta, mas ajudamos a direcionar o olhar de forma que cada um possa dar longevidade à sua relevância.

 

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