Sair do modo leitor

Como ser inovador usando o modelo das marcas de sucesso

Inovação

 Não é um dom: ser inovador não é uma propensão genética ou uma característica inata. Se você sente-se inspirado quando vê alguém que deixa sua marca com uma inovação relevante, em qualquer que seja o mercado, saiba que é possível trilhar essa rota. Dessa maneira, poderá se destacar em seu segmento, conquistar clientes e promover um impacto positivo.

Empresas não deixam de inovar por falta de ideias, mas por inabilidade na gestão para a inovação. Em outras palavras, o grande problema enfrentado pelas organizações é a falta de uma estratégia bem definida sofre futuro. De fato, a empresa como um todo se beneficia e se engaja a partir de um comportamento inovador. Assim, saber entender quais são as características, elementos e processos criativos da inovação é imprescindível.

O que é ser inovador?

Uma empresa inovadora é aquela que identifica oportunidades de mercado para a introdução de novos produtos, serviços, processos ou a modificação dos existentes. Em princípio, é necessário desenvolver e estimular as habilidades de seu time e transformar o jeito de de fazer negócios. Um perfil inovador passa fortemente por uma cultura de inovação, com um propósito forte e um olhar guiado para os negócios do futuro, onde a experimentação deve ser estimulada ao máximo.

Em outras palavras, sobre esse assunto, o head de inovação da Ayoo, Luiz Candreva, afirma o seguinte:

Onde você não pode errar, você não pode experimentar e a inovação morre. Brasileiro não é inovador, mesmo sendo muito criativo, porque não pode errar.

Exemplos de inovação: Domino’s Pizza

Entre as empresas que se reinventaram de dentro para fora, destruindo e recriando seu modelo de negócios, temos por exemplo a Domino’s Pizza. A história da Domino’s começa em 1960, em Michigan, Estados Unidos, como uma pizzaria local. Chegou ao Brasil em 1993, inaugurando sua primeira loja no Rio de Janeiro. Pioneira em patentear bags de pizza para transporte, a rede desenvolveu uma caixa mais resistente ao calor, evitando que a massa da pizza fique mole e sem crocância durante o transporte.

Em 2007, a Domino’s lançou a opção de realizar os pedidos pela internet e, em 2008, revolucionou a experiência criando o Pizza Tracker e o Pizza Builder. A ferramenta do Pizza Builder permite que os clientes vejam sua pizza ganhar vida na tela do computador. O Pizza Tracker disponibiliza acompanhamento, em tempo real, o status do seu pedido, desde o momento em que é feito até o recebimento da pizza. Pasmem, os entregadores dirigem mais de 1,6 milhões de quilômetros todas as semanas.

Cronômetro médio do pedido mostrando o passo a passo até a entrega

Como um profissional inovador, o vice-presidente e diretor digital da Domino’s, Dennis Maloney, disse que eles têm feito sobretudo um intenso trabalho de transformação digital. O trabalho começou em 2010, posteriormente a uma crítica à qualidade dos produtos em rede nacional em uma propaganda de TV. De acordo com o diretor, foi nesse ponto que a marca começou a experimentar soluções de tecnologia, principalmente, usando os smartphones.

A aposta resultou em 15 jeitos digitais de comprar a pizza nos EUA. “Fizemos até um app em que o usuário não precisa apertar nenhum botão. Basta abrir o programa que a gente manda a pizza de sua preferência”, explica. Nesse meio tempo, afirma Maloney, a Domino’s passou a vender 65% das pizzas pelo canal digital e tornou-se o maior restaurante do tipo no país.

A empresa entende que, apesar do sucesso, não pode ficar parada na inovação digital e já testa a aplicação de aprendizado de máquinas, inteligência artificial e carros autônomos para o pedido e entrega.

Exemplos de inovação no Brasil

Outros exemplos de inovação em cases de sucesso são: Natura, Granado, Reserva, Melissa, entre outros. A Melissa, por exemplo, marca da Grendene, nasceu de uma ideia inovadora. A empresa primeiramente fabricava embalagens plásticas para garrafões de vinho e usaram a mesma trama para fazer uma sandália, conhecida por modelo aranha, inspirada no que pescadores da Riviera Francesa usavam. A marca nascida no Rio Grande do Sul está hoje em 70 países e passou por uma série de transformações para se tornar uma grife, com galerias de moda em Nova Iorque, Londres e São Paulo.

Modelo comemorativo em alusão às primeiras sandálias Melissa

Em quatro décadas, a Melissa executou muitas propostas ousadas. Na década de 1970, foi a primeira marca brasileira a fazer merchandising em uma novela, com uma personagem vivida por Sônia Braga em Dancin’ Days. Em 1983, foi uma das primeiras marcas a ter uma coleção colaborativa, à época, com Jean-Paul Gaultier. Nesse meio tempo teve outros ícones, como Karl Lagerfeld, Edson Matsuo, Jacqueline Jacobson e Romero Britto, como parceiros. Por outro lado, o modelo de negócios saiu da distribuição em lojas de calçados e hoje tem vendas on-line, franquias para lojas,

Os irmãos Pedro e Alexandre Grandene tinham um negócio que estava indo bem com as embalagens de garrafões de vinhos, que já era uma inovação sobre as embalagens de vime. Pensar além do que faziam, destruir aquele modelo de negócios e criar outro – em um mercado completamente diferente – e seguir ousando em série, nunca teriam uma marca hoje conhecida por mim e por você. Além da Melissa, Rider, Grendha e Ipanema empregam diretamente 24 mil pessoas, têm 65 mil pontos de venda e há 16 anos a empresa é a maior exportadora brasileira em seu segmento.

Reinvenção de marcas tradicionais

Loja conceito da Granado no Rio de Janeiro

Uma das marcas mais tradicionais em higiene pessoal do Brasil, a Granado nasceu em 1870, quando o português José Antônio Coxito Granado abriu a Botica de Barros Franco, no Rio de Janeiro. Ainda no século XIX, já havia um espírito inovador. O fundador manipulava na “pharmácia” produtos usando extratos vegetais de plantas, ervas e flores brasileiras, que eram cultivadas em seu sítio em Teresópolis.

Entendendo naquela época a necessidade do público local, importava produtos da Europa e adotava ao gosto do consumidor brasileiro. Foi assim que se tornou uma das fornecedoras oficiais da corte, nascendo uma amizade com Dom Pedro II – que deu à Granado o título de Farmácia Oficial da Família Imperial Brasileira.

Um dos produtos comercializados até hoje, o polvilho antisséptico, foi uma inovação criada em 1903 por João Bernardo, irmão de Coxito. Seu registro tem a assinatura de Oswaldo Cruz e a mesma fórmula até hoje. Mas durante o século XX, a marca manteve uma postura ortodoxa em relação aos negócios. O que mudou com a virada do milênio.

Depois de três gerações como empresa familiar, a farmácia passou a ser presidida pelo inglês Christopher Freeman e, em 2004, incorpora outra marca ultratradicional à companhia: a Phebo. Posteriormente, começa o desenvolvimento de novas linhas de produtos e a proposta da empresa volta-se a inovar usando o reconhecimento centenário. Inauguram a loja conceito no endereço original – com equipamentos originais, inclusive – abrem o modelo de franquias, aumentam exponencialmente produção e distribuição. Por outro lado, mantém a identidade em suas lojas espalhadas pelo país, que têm a mesma proposta daquela do Centro do Rio. Em 2013, inicia um projeto de internacionalização.

Melhorar ou inovar?

É preciso ter uma definição de inovação amplamente compreendida. Sem isso, é impossível saber o quanto de inovação “real” está acontecendo e se está valendo a pena. Da mesma forma você não pode atribuir aos líderes os créditos pelos tipos de inovação implantados se ninguém conseguir entender o que é inovador e o que não é.

Quando a Hellmann’s coloca a maionese em um novo pote, isso é inovação ou simplesmente um avanço? Quando a Whirlpool lança uma máquina de lavar roupa que dispensa a quantidade certa de sabão, isso é uma mudança ou inovação? Pode levar vários meses para uma empresa encontrar sua definição de inovação, uma vez que decida ir por este caminho. Como ponto de partida, fazer uma retrospectiva da trajetória da instituição e identificar os tipos de ideias que repercutiram positivamente pode ajudar. O importante é estar sempre em movimento na busca por melhoria contínua.

Tipos de modelo inovador

Quando a missão e os princípios da empresa são revistos a fim de aumentar o público e seu posicionamento no mercado, existem outros cinco diferentes tipos de inovação que podem ser iniciados por empresas de qualquer porte:

Com a criação de novos métodos e soluções para processos internos da empresa, otimizando gastos e entregas, além de gerar mais valor ao cliente, temos uma inovação em processos.

E a inovação organizacional, quando o modelo estrutural da empresa ganha alterações para aumentar sua capacidade competitiva por métodos diferentes que lidam com a logística administrativa, de estoque e de distribuição ou ainda na gestão de pessoas.

A cultura da aceitação do erro em um modelo inovador

Inovar é arriscar, fracassar e aprender. Por isso é natural ter e testar muitas ideias, desenvolvendo a habilidade de saber descartar aquelas que não se mostram interessantes, aprendendo com elas e focando naquelas que têm potencial, persistindo para fazê-las acontecer.

Deixe que a sua equipe erre! O elemento mais crítico em um modelo de negócios, é dar aos colaboradores liberdade para fracassar. Inegavelmente, se eles sabem que podem falhar sem pôr em risco seus empregos, estão mais dispostos a assumir projetos inovadores que oferecem ótimas recompensas para as empresas. Como resultado, aquelas que permitem o erro geralmente acabam, paradoxalmente, acertando mais, por arriscarem mais. O que não quer dizer que errar seja bom: é ruim, mas um mal necessário para fomentar a experimentação.

Mas não acredite que tolerância ao erro é permissividade ou relaxamento. Se dá certo, é preciso celebrar e refletir para saber os porquês do acerto e, assim, aumentar as chances de continuar acertando. Mas, quando algo sai errado, um bom profissional inovador não pune, mas reflete. O que fizemos de errado? O que podemos fazer para evitar que isso aconteça de novo? Qual o aprendizado que este erro nos traz?

Pessoas criativas e disciplinadas, juntas, constroem a inovação

A sua equipe tem forte influência nesse processo de inovação da empresa, não adianta contratar uma pessoa talentosa e ficar dizendo o que ela tem que fazer. Se você contratou alguém talentoso é importante dar autonomia, espaço e confiança. Como dizia Steve Jobs:

“Não contrate pessoas talentosas para lhes dizer como têm que trabalhar, contrate-as para que elas lhe digam como você tem que trabalhar.”

Afinal, se não for assim, você está desperdiçando o talento e a criatividade de profissional inovador que essa contratação permitiu trazer ao seu negócio. Portanto, seja rigoroso na contratação e depois dê autonomia e confiança para seus talentos.

“A única constante é a mudança”

A frase acima é de um pensador que viveu no século V a.C. e, pelo visto, vai valer pra sempre, o que faria dela uma constante que contradiz seu princípio? Bom, debates profundos à parte, o filósofo pré-socrático Heráclito, de Éfeso, conhecido como pai da dialética, nos deixou essa baita reflexão que é a base do que muitas empresas inovadoras, como o Facebook, adotam como prática.

Heráclito foi um filósofo pré-socrático considerado o “Pai da dialética” (540 a.C. – 470 a.C.)

No Vale do Silício, e em outros hubs de inovação pelo mundo, a ideia de 1% pronto, 99% a construir, reflete a mentalidade de movimento perene. Ao mesmo tempo, essa velocidade vai se tornar ainda maior e corporações e profissionais que queiram ser relevantes nesse cenário deverão estar aptos a essa mutação constante.

Entender o conceito de inovação e praticá-lo dentro da sua organização leva tempo, demanda dedicação e investimentos. Para concluir, selecionamos um passo a passo para você incluir a inovação na sua empresa:

E aí, pronto para evoluir? Você pode começar melhorando o que já existe e depois fazer coisas novas que ninguém tem ou faz. A capacidade de realização no modelo inovador é a característica mais importante. Assim, é preciso experimentar, aprender com os erros e fazer novamente. Uma boa ideia só será comprovada quando sair do papel e virar ação. Comece com coisas pequenas, mantenha-se em movimento, desenvolva o hábito, cuide das pessoas e do ambiente para que a inovação faça parte da cultura, sendo vista e sentida por todos como algo importante.