Sabe aquela tecla citando o valor que está em encontrar a dor do cliente que sempre estamos batendo por aqui? Foi exatamente a partir dela que nasceram as fintechs. Quando pensamos em bancos e empresas do mercado financeiro em geral, nos vêm à mente a ideia de burocracia, dores de cabeça, filas enormes e horas para resolver algo que deveria ser simples, não é?
Fintechs vieram para melhorar a experiência dos clientes na relação com as instituições financeiras colocando tecnologia para suplantar muitas das queixas mais comuns, como os valores cobrados e a morosidade nas respostas. É um mercado extremamente promissor no qual o Brasil está conseguindo se destacar. Vamos saber mais sobre essas empresas?
O que são fintechs?
Fintechs são empresas do setor financeiro que fazem uso ostensivo da tecnologia, ou seja, que as ferramentas digitais estão na base do seu negócio. O nome, inclusive, vem da combinação de financial (finança) + technology (tecnologia). No Brasil, as fintechs compõem o Sistema Financeiro Nacional e estão regulamentadas desde abril de 2018 pelo Conselho Monetário Nacional (CMN). Por isso, algumas delas precisam de autorização do Banco Central do Brasil para operar.
Primeiramente, é preciso ter em mente que uma fintech resolve a mesma dor essencial que um banco tradicional: dar segurança e praticidade na utilização do dinheiro de pessoas e empresas. A inovação trazida não está muito em “o que” as fintechs fazem, mas em “como” fazem. Em outras palavras, elas oferecem os mesmos serviços que os bancos e instituições tradicionais, mas agregam valor em outras frentes como velocidade, comodidade, transparência, redução de custos e cortes de taxas, por exemplo.
O setor é extremamente significativo no Brasil, que tem uma das maiores concentrações bancárias do mundo. Só para ilustrar, no nosso país, cinco bancos detêm 85% dos ativos totais do segmento. Você pode até pensar que isso torna o cenário desfavorável à concorrência, mas já vimos que as fintechs estão conseguindo ganhar seu espaço inovando sobretudo no modelo de negócio e na forma de monetizar seus serviços.
Tipos de fintechs
Sabemos que as fintechs remodelaram alguns serviços que já conhecemos e que ganharam espaço a partir daí, certo? Mas existem algumas áreas de atuação específicas que esse tipo de empresa pode atuar, tais como:
- Investimentos: facilitar acesso a investimentos tem sido uma revolução das fintechs! O processo vem se tornando cada vez mais simples e transparente.
- Controle financeiro: parece comum, mas ter uma mãozinha na hora de gerir o próprio dinheiro ajudou muitos usuários e muitas empresas têm se destacado nessa área.
- Meios de pagamento: essa área representa 31% do mercado de fintechs e ainda tem muita perspectiva de crescimento. Vão de iniciativas mais comuns como as voltadas para e-commerce a ideias mais ousadas.
- Criptomoedas e blockchain: dá para ver de longe o potencial que moedas digitais e sistemas de segurança para as transações, não é?
Internacionalmente, são classificadas como de pagamento, compensação e liquidação, depósito, empréstimo e levantamento de capital, financiamento, e gestão de investimentos. No Brasil, agrupa-se as fintechs como de pagamento, gestão financeira, empréstimo, investimento, financiamento, seguro, negociação de dívidas, criptoativos e Distributed Ledger Technologies (DLTs), câmbio, e multisserviços.
Regulação das fintechs brasileiras
Entre estas, duas categorias estão sujeitas à regulação do Banco Central:
- as fintechs de crédito; e
- as instituições de pagamento, por poderem emitir a chamada moeda eletrônica mais conhecida como cartão de débito, meios de pagamento pós-pagos, que são os cartões de crédito e que podem ser credenciadoras, aquelas que criam meios de pagamentos para serem usados por empresas na relação com os clientes.
Não só as novas empresas estão no ecossistema de fintechs, como algumas grandes corporações tradicionais já buscam atuar com o novo modelo. Vale ressaltar que não é a simples presença de automatização ou oferta de serviços digitais que caracteriza uma fintech, já que bancos estão entre os setores com maior presença de tecnologia de ponta há décadas. É o modelo de negócio que, em resumo, faz a diferença. Portanto, instituições tradicionais têm criado suas startups ou adquirido controle de algumas que se destacam no meio.
A informatização financeira do Brasil
Problemas gigantescos trazem consigo oportunidades igualmente gigantescas. O Brasil da hiperinflação, da extensão continental, da burocracia levou o país a ter uma das tecnologias bancárias mais respeitadas do mundo. A informatização começou ainda nos anos 1960, ainda no Banco do Brasil – que à época acumulava a função de autoridade monetária. Depois, o Bradesco firmou parceria com a IBM.
No final dos anos 1970, a aposta em tecnologia pelo Itaú acabou levando à criação da Itautec. Controlar dinheiro de milhões de correntistas e poupadores com base em ficheiros de papel com uma hiperinflação que durou décadas foi uma dor central para mover a tecnologia brasileira na administração financeira.
Para saber mais sobre a História da tecnologia bancária no Brasil, há um livro dedicado ao tema publicado pela Febraban.
Dor e oportunidade: solo árido é fértil para fintechs
Dos pioneiros nos anos 1960 à segunda década do século XXI muita coisa mudou, mas o contexto financeiro brasileiro segue altamente desafiador. Neste, que não é exatamente o solo mais fértil do mundo, bancos frequentemente aparecem no topo das reclamações de consumidores.
Ao mesmo tempo, temos uma população que carece de educação financeira, apesar de ser um dos maiores mercados consumidores do mundo. O que pode, numa análise mais superficial parecer um grande desastre, torna-se, por outro lado, uma mina de ouro para empreendedores que mapearam em cada um destes desafios uma chance de oferecer algum incremento inovador:
- Começamos 2020 com, aproximadamente, 45 milhões de brasileiros maiores de 16 anos sem conta bancária. Essa galera movimenta mais de RS$ 800 bilhões por ano! A Febraban estima que o auxílio pago em função da pandemia tenha levado 10 milhões de pessoas a ter sua primeira conta bancária – foram abertos 100 milhões de contas digitais.
- Apesar de 25% da população fazer uso de cartões de crédito, segundo o SPC Brasil, um terço dos usuários desconhecem informações-chave do recurso como limite ou taxas de juros, por exemplo, além de gastarem mais do que poderiam.
- Mais da metade dos brasileiros, ainda segundo o SPC Brasil, confessam que nunca ou muito raramente despendem tempo para controlar sua vida financeira, o que faz com que 17% acabem recorrendo ao cartão de crédito, cheque especial ou similares. O percentual é ainda maior entre os jovens, subindo para 24%.
Diferencial das fintechs
Fintechs têm crescido principalmente por conseguirem explorar as lacunas em nichos de mercado que grandes instituições não têm flexibilidade e agilidade para cobrir. É o caso, por exemplo, de pessoas que vivem em pequenas cidades onde o custo de uma agência física é alto demais para valer o investimento. Problema que não afeta a operação das fintechs.
Além disso, o fato de quase todas as soluções oferecidas por fintechs serem digitais, torna o modelo de negócio extremamente escalável. Essas empresas têm conquistado seu lugar ao trazer novas experiências a negócios e consumidores com uma versatilidade de dar brilho nos olhos em um setor tão regulado e burocrático.
O que os grandes bancos tiram das fintechs
Já vimos muitas empresas sólidas e consagradas irem ao chão depois que sua relevância foi sugada por uma empresa de tecnologia que começou discreta e explodiu. Os bancos, portanto, não estão imunes a serem corroídos pelas fintechs.
Algumas das maiores instituições financeiras passaram a olhar respeitosamente para as empresas de tecnologia financeira. O Itaú, por exemplo, além de adquirir e testar soluções baseadas naquilo que era oferecido por fintechs, como uma aplicação que permite transferir dinheiro sem sair do WhatsApp, trouxe as startups para perto de si. O Cubo Itaú é uma comunidade que conecta 300 entes para fomentar o empreendimento tecnológico e acelerar startups.
Da mesma forma, o Bradesco tem a Bitz que atua no segmento de carteiras digitais e comprou a DinDin. A Bradesco Fintech aplica bilhões na área sendo seu produto mais famoso o Next. O banco também tem um espaço para aceleração chamado InovaBra, como reflexo da visão de que o futuro terá um crescimento das fintechs e, melhor que brigar com elas, e estar no grupo que deverá dominar o jogo.
Concorrentes? No mundo da tecnologia, as coisas podem ser um pouco diferentes. Alguns nomes já estão descobrindo o valor em fazer junto. Em setembro de 2020, a fintech Quanto, um open banking recebeu US$ 15 milhões em aportes. Bradesco e Itaú Unibanco estão entre os investidores.
As super fintechs brasileiras
Na comparação entre os levantamentos de 2020 e 2019 da Distrito Dataminer, houve aumento de 34% nas fintechs com 742 startups nacionais ativas neste setor. Dentre elas, há algumas que mereceram o “super”, porque cresceram ao ponto de não poderem ser ignoradas pelos bancos. Vejamos o mapeamento da Distrito sobre os destaques desse nosso mercado e suas respectivas áreas de atuação:
- Certisign – risco e compliance;
- Clearsale – risco e compliance;
- Conductor – meios de pagamento;
- ContaAzul – backoffice;
- Contabilizei – backoffice;
- Creditas – crédito;
- Ebanx – meios de pagamento;
- Geru – crédito;
- Guia bolso – finanças pessoais;
- Neon – serviços digitais;
- Nubank – serviços digitais;
- PagSeguro – meios de pagamento;
- Pravaler – crédito
- RecargaPay – serviços digitais;
- Stone – meios de pagamento;
- Trigg – cartões;
- Weel – crédito; e
- Zoop – meios de pagamento.
Das dezoito empresas citadas, algumas startups do mercado financeiro, ou já são unicórnios ou estavam próximas do marco quando a pesquisa fora feita. Unicórnio é como chamamos as empresas que alcançaram o valor de mercado de um bilhão de dólares ou mais. Já temos, inclusive, os decacórnios no Brasil: o primeiro chifre dourado foi do Nubank.
Há outros nomes que vêm crescendo muito, como o C6 Bank, que recebeu aporte em dezembro de 2020 de R$ 1,3 bilhão da Carbon Holding e passando dos R$ 11 bilhões.
Cases de sucesso
Alguns dos negócios citados acima merecem mais atenção sobretudo pela forma como a solução oferecida revolucionou o mercado:
- Ebanx
Podemos dizer que a empresa derrubou as fronteiras para o consumidor brasileiro. Já conversamos aqui sobre a complexidade do sistema brasileiro financeiro, certo? Agora imagine o problemão para empresas estrangeiras se inserirem no mercado e lidar com isso? Fundada em 2012 a empresa se propôs justamente a resolver esse gap de acesso entre latinos-americanos e sites internacionais, especialmente os e-commerces da China, como o Ali Express. Hoje, o Ebanx oferece mais de 100 opções de pagamentos locais, sobretudo via boleto. A empresa tem operações na Argentina, Brasil, Bolívia, Colômbia, Chile, Equador, México, Peru e Uruguai.
- Certisign
Pioneira da certificação digital no Brasil e líder do setor na América Latina, a Certising foi criada em 1996. Hoje, especialista em Identidade Digital, atua em diversos setores com suas soluções de identificação, como e-CPF e e-CNPJ digital, por exemplo. Presente em mais de 2200 locais de atendimento em todo o Brasil e em 14 no exterior, já ultrapassou a marca de 12 milhões de clientes atendidos.
- Clearsale
A empresa é líder em soluções antifraude em e-commerces e pioneira em mapeamento do comportamento e reputação do consumidor digital. A Clearsale conseguiu identificar o gap em referência à segurança nas transações comerciais no mundo digital e ofereceu uma gama de soluções. Não só evitando fraudes como também analisando score de crédito, a empresa tem clientes em treze países e analisa transações de e-commerce, mercado financeiro, venda direta, telecomunicações e seguros em 150 países.
- Guia Bolso
Lembra daquela dor do brasileiro sobre controle financeiro que já citamos? A Guia Bolso atua justamente nela, sendo um aplicativo de finanças pessoais que ajuda o usuário a administrar seu dinheiro. A fintech é pioneira no open banking, sincronizando diversas contas.
- NuBank
Apesar da empresa dizer com todas as letras que não é um banco, ele chegou conquistando seus clientes com um cartão de crédito gratuito repleto de facilidades tecnológicas. Em seguida, expandiu seu serviços para outros encontrados em grandes bancos como contas de pagamento – que opera com cartão de débito como uma conta corrente – e empréstimo pessoal. Com mais de 20 milhões de clientes em todos os municípios brasileiros, o decacórnio está também no México, Argentina e Colômbia.
Tecnologia e cliente no centro
Como cada vez mais negócios estão percebendo os benefícios de flexibilizar suas formas de pagamento, uma vez que isso reflete diretamente nas taxas de conversão, confiança, fidelização e a expansão do negócio em si, as iniciativas de fintechs vão variando de país para país.
O boleto, por exemplo, é a terceira maior forma de pagamento no nosso país, mas não é tão popular assim em outros lugares. Conhecer os hábitos dos clientes, mapear sua jornada, desenhar o produto, testar e voltar para fazer ajustes como ensina o design thinking é essencial para quem quer se destacar nesse mercado altamente competitivo. Mesmo que parecesse impossível há alguns anos, as fintechs, que nascem como algo sutil, têm incomodado os gigantescos bancos mundo afora.
Entre as fintechs, vale citar ainda aquelas que surgem por conta de demandas muito específicas, como as de crowkfunding. Ou, em outras palavras, as vaquinhas. São empresas que ajudam pessoas que precisam levantar recursos e contam com a solidariedade para seu projeto ou para uma causa social. VOAA, do Razões para Acreditar, Vakinha, Catarse e Kickante são algumas das maiores plataformas do Brasil.
Blockchain: Criptomoedas
Um tipo especial de fintechs são aquelas que operam com criptomoedas. A tecnologia de blockchain – criptografia digital que confere segurança às mais diversas transações – neste caso é aplicada às moedas virtuais.
Nesta categoria, encontram-se por exemplo as corretoras, que permitem como numa casa de câmbio tradicional a troca de moedas tradicionais por criptomoedas. Além da conversão entre criptomoedas diferentes. Há ainda as plataformas de investimento em criptoativos e derivados. Por fim, existem as fintechs que oferecem soluções de pagamentos em transações do universo físico usando os criptoativos como moeda.
O Mercado Bitcoin é a maior plataforma de negociação de criptomoedas e ativos alternativos da América Latina. Este é o setor onde estão quase metade das fintechs que atuam com criptomoedas no Brasil.
Inovação do Brasil para o resto do planeta
Há, ainda, outras empresas já mencionadas que merecem duplamente sua atenção, como o Nubank e o Creditas, que apareceram em um ranking que selecionou entre 29 países as companhias mais inovadoras na união das finanças com tecnologia. Além dessas duas, O Banco Inter e a Rebel também apareceram no ranking Fintech100 2019.
O Brasil concentra metade dos investimentos em fintechs da América Latina inteira. Dados do Banco de Compensações Internacionais mostram que 50,5% dos investimentos – o que significa um montante de R$ 2,49 bilhões – foram aportados em 222 acordos no nosso país até 2020. A maior parte desses investimentos foi direcionada a bancos digitais e empresas de serviços de pagamento.
Fintech é uma das áreas que mais se desenvolvem no mundo. Para se ter noção, 35% dos aportes de Venture Capital contabilizados no Brasil no último ano foram direcionados a elas, somando cerca de US$ 910 milhões! Entre unicórnios, investimentos e aportes, três dessas empresas (Nubank, Banco Inter e Creditas) ocupam o chamado Top 50, que lista as startups de serviços financeiros mais maduras. Já a Rebel entra no Emerging 50, uma lista voltada para as empresas que deveríamos manter o olho por causa de seu grande potencial. Independente da categoria do ranking, essa é uma vitória e tanto para o Brasil!
Fintechs e seu lugar no mundo
Fora do Brasil, temos duas cidades em relevância e os especialistas já fazem suas apostas. Apesar de São Francisco ainda liderar a área, sediando 9 das maiores fintechs, Londres segue logo atrás com 7 empresas do tipo e o segmento é o que mais cresce na economia local. A ascensão do mundo financeiro digital não é exclusiva das cidades que mais se desenvolveram no ramo.
O impacto das fintechs tem obrigado, ao mesmo tempo, os grandes bancos tradicionais a se adaptarem para atender o perfil ágil e conectado das novas gerações de clientes. Ou seja, ainda vamos ouvir muito sobre elas.
Você poderia não ter um conhecimento aprofundado sobre este setor, mas aposto que já usou o serviço de algumas fintechs, talvez até sem perceber. Entre assessoria personalizada, taxas menores e um ambiente tecnológico, quem sai ganhando somos nós, consumidores, por no mínimo termos mais opções.